Capítulo quatorze: Manhã de sábado


Manhã de sábado. Era incrível, mas eu não sentia o menor sintoma de ressaca. Não estava com dor de cabeça. Bernard dormia apoiado em meu ombro. Megan dormia apoiada em meu peito. Eu pensei comigo mesmo “Oliver, meu filho, puxa vida! Por isso você não esperava.”. Dei uma olhada em meu quarto. Nossas roupas estavam pelo chão. Droga, a porta estava aberta. Tinha alguém ali? Abro meus olhos direito e vejo Augusto nos observando. Quando ele viu que eu estava olhando pra ele, se retirou imediatamente. Agora eu tinha certeza que eu estava numa confusão. Acordei Megan e Bernard e disse a eles o que eu tinha visto. Os dois se levantaram num pulo e vestiram suas roupas. Estávamos os três tensos agora. E se Augusto resolvesse contar pros pais deles? Não, ele não podia. Seria o fim. “Esperem aqui, enquanto eu vou atrás dele” eu disse, mas eles não quiseram. Era melhor voltar pra casa antes que seus pais percebessem o sumiço. Tal tragédia seria se isso acontecesse. Megan e Bernard me beijaram na boca, nós três dissemos que nos amávamos e eles foram embora. Eu estava confuso. Não sabia direito o que havia acontecido a noite passada. Tinha a sensação de que havia sido apresentado a mim mesmo, e que antes disso eu ainda não me conhecia. Me olhei no espelho. Ainda tinha o mesmo rosto, mas por dentro era tudo novo. Me concentrei na realidade, não havia tempo agora para crises de identidade. Eu precisava falar com o Augusto e sabia que ele devia estar na cozinha me esperando. Fui até lá. Nada de Augusto. Somente minha mãe preparando uma espécie de patê de frango nojento pra comer com pão. Era o dia de folga dela. Eu notara que a barriga dela estava mais arredondada. Pela primeira vez eu pensava no meu irmãozinho que estava por vir preocupado com as porcarias que minha mãe estava comendo. Respirei fundo. Maravilha! Então agora era a hora da verdade, pensei. Provavelmente Augusto já havia narrado o último acontecimento pra ela, lógico. Era engraçado. Desde quando cheguei a Dom Basílio eu tive a sensação de que aqui eu viveria experiências novas. Eu não imaginava quais, e muito menos as que eu vivi. Nem imaginava que o final seria assim. Porque, claro, esse só poderia ser o fim da minha viagem. Minha mãe, enfermeira-chefe, grávida, 41 anos de idade, sensível e educada pelos meus avôs cabeças-pequenas não iria achar isso nada, nada, agradável. Um sexo a três, um suposto incesto entre irmãos e uma cena homossexual. Era demais pra ela. E Augusto só reforçaria a idéia de me mandar de volta pra casa do meu pai. Eu faria minhas malas calado, e voaria pra Grécia. Com meu pai e sua loira confusa. Tomei ar. Era triste o pensamento de nunca mais rever Bernard e Megan.

Sentei-me na mesa:

-Bom dia, filho! Quer patê de frango?

-Bom dia, mãe. Frango? Não, não...

-Eu ia fazer sem frango, mas o que eu colocaria no lugar? – fez essa pergunta como se estivesse dizendo “peixe morre fora d’água!”

-Tudo bem, eu vou comer essas torradas... -Legal.

Eu estava olhando pra ela, esperando a intimação. Mas isso não acontecia.

-O Augusto me disse que você trouxe amigos essa noite...

-É... Eles já foram embora... Ontem estava tarde pra eles e...

-Eles não são os vizinhos?

-Sim.

Ficamos calados. Eu continuei meu café, e ela o dela. Aparentemente estava muito tranqüila. Eu estava quase surtando. Que inferno! Por que ela não tocava logo no assunto? Talvez Augusto não tenha dito a história toda. Mas, por quê?

-Estou de férias! Isso não é uma maravilha, Oliver, meu filho? Adiantei minhas férias pra já emendar com a licença-maternidade. Teremos tempo pra nós!

-Tempo pra nós? Eu não queria tempo “pra nós”! Era tarde demais agora. Eu queria tempo pra Bernard e Megan.

-Podemos ir ao Cereja&capuccino. Poderemos ir ao shopping! Podemos até mesmo pedir uma pizza, alugar uns dvd’s...

-Claro, seria o máximo...

Levantei, deixei minha mãe falando sozinha e fui até o “escritório” do Augusto. Eu queria entender uma coisa. Quando entrei pela porta dele sem bater ele ficou surpreso, mas não disse nada. Esperou que eu dissesse:

-Então você não contou – Eu disse.

-Não contou o quê?

-Você sabe o que.

-Não, não contei.

-Por quê?

-Não sei. Eu deveria contar?

-Sim. Você me odeia... Não é?

-Eu não te odeio Oliver.

-Bem, você me odiava...

-Eu não te odeio mais. Oliver. Eu quero que tudo fique bem entre nós.

Knock out!

Okay, okay... Depois dessa noite maluca, tudo estava mudado? Como assim, Augusto todo legal comigo?

-Isso, é um avanço... Isso é realmente um avanço!

-Eu sei. Eu sei... Você deve estar muito surpreso. Agente foi infantil todo esse tempo.

-É.

-É.

-...

-...

-(suspiro)

-Obrigado por não contar. Sobre eu e a Megan e o Bernard.

-Oliver, se você é gay, isso não quer...

-Eu não sou gay.

-Você transou com o menino também não transou?

-Andou me espionando a noite toda?

-Não.

-Eu estou confuso. Confuso, entende?

-Eu não disse nada pra sua mãe porque isso é você quem deve dizer, quando se sentir preparado.
Essa conversa estava me deixando cada vez mais surpreendido.

-Você não acha isso o fim do mundo?

-Você transar com os dois? Na verdade, acho um pouco inadequado. Agora o fato de você ser bissexual é normal.

“Ser bissexual é normal”
Essa era a primeira vez que eu pensava em bissexualismo como uma resposta a ser considerada. Não era ruim sentir atração pelos dois sexos. E se eu me sentia assim, por que diabos eu deveria evitar esse sentimento? Ou negar a mim mesmo? Não ajudaria em nada fugir do que eu sou, essa era a verdade. Eu estava me definindo. Estranho era chegar a essa conclusão numa conversa com o Augusto, que até alguns minutos atrás era o meu padrasto inimigo. Inimigo?Acho que as coisas haviam mudado.


5 comentários interessantes:

Maria Chuteira 9 de set. de 2009, 09:19:00  

Hummmm.... ta vendo que o Augusto não é tão mal assim?? heheh ta ta.. eu mesma falei mal dele, mas o mundo gira né!? essa "descoberta" vai dar o que falar pelo que eu to percebendo.
gostei da atitude dele....ponto pro Augusto Justus!hehe

Bjos! ameiiii o capitulo!

CLEITON CAC 12 de set. de 2009, 18:13:00  

Achei legal esse capitulo e acho legal abordar este tema com essa delicadeza, um abraço!!!

Maria Chuteira 27 de out. de 2009, 08:35:00  

esperando o proximooo...kd??

bjos

Maria Chuteira 2 de jun. de 2010, 11:28:00  

me perdi no tempo....kd o restante?
bjooo

Garota Confusa. 17 de set. de 2010, 14:42:00  

Muito bom esse capítulo!
andei meio ausente, espero voltar de vez agora.
Adoro seu blog, sempre leio ;)
Beijos.

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