Capítulo Cinco: O nome dela.


É uma manhã fria de terça-feira. A porcaria do relógio não despertou denovo. Eu devo fazer alguma coisa pra conseguir acordar no horário certo nos próximos dias até meu organismo se acostumar com isso. Em São Paulo eu estudava a tarde, e podia dormir o quanto quisesse. Aqui tenho que me levantar junto com a minha mãe, bem cedinho. É sempre assim. Eu me arrumo, desço as escadas e ela já está lá cantarolando alguma música brega e preparando o café.
Mas, hoje foi diferente. Desci as escadas em silêncio, e milagrosamente o Augusto já estava de pé. Ele geralmente acordava duas horas depois.

-...e ele vai ter que entender.
-Eu sei, eu sei. Mas eu tive tanto trabalho pra decorar o quarto dele.
-Bom, desdecore.
-Desdecore?
-É.
-Desdecorar você acha que vai ser a solução? Por favor, Augusto. É meu filho!
-Isso mesmo, SEU filho.
-Eu achei que você tivesse uma consideração por ele pelo menos.
-Ele é um garoto estranho, Virgínia.
-Defina estranho.
-Ele só é estranho, eu vou lá saber! Passa o dia inteiro ouvindo aquela cantora horrível com nome de agressão física.


-O nome dela é Soko.

Eu estava no batente da porta da cozinha. Os dois ficaram mudos, minha mãe quase se engasgou com sua torrada e Augusto fez aquela cara que o Roberto Justus faz quando demite alguém.
Eu sentei na mesa e comecei a comer meu pão integral com uma fatia de queijo branco. Não sou dos vegetarianos mais radicais, sabe. Eles ficaram lá parados me olhando.

-O leite acabou? - eu perguntei. Me deram o leite.

-Há quanto tempo você estava aí, filho?
-Eu moro aqui, mãe.
-Você sabe o que eu quis dizer!
-Desde a parte da decoração do meu quarto. Aliás, foi uma ótima xerox do meu antigo quarto por sinal.
-Eu procurei fazer tudo ao seu gosto.
-Eu gostei. Obrigado.
-A questão Oliver, é que essa era uma conversa pessoal - diz Augusto ainda com aquela cara.
-Se estavam falando de mim, eu tenho o direito de saber.
-Eu também acho. - diz minha mãe.
-Mas não era sobre você, Oliver.
-Ah, então provavelmente quando você disse "SEU filho" você estava se referindo a Tina, né?
-Não Oliver. Era sobre você, mas o principal assunto não era esse!
-Vocês querem que eu vá embora? Eu posso ir. Só preciso de alguns minutos pra fazer a mala.
-Claro que não filho, nós adoramos ter você aqui.
-Então não vão precisar ''desdecorar'' meu quarto.
-Viu só o que você fez? - minha mãe vira pra Augusto.
-Não vejo nada demais.- diz ele.

-Será que agente pode ir? Eu não quero me atrasar. Denovo. - Eu me levanto.

-Sente-se Oliver. - diz Augusto e fica me olhando. Eu me sento. Por um momento eu penso que ele vai mover os lábios e me dizer 'você está demitido!' Mas ele olha pra minha mãe como se procurasse apoio, e ela faz um gesto positivo com a cabeça. Ele cria coragem e diz:

-Você vai ganhar um irmãozinho.

Dentro de mim eu me levanto, chacoalho o dedo na frente deles e grito 'todo esse circo pra me dizer isso???'. Mas na verdade o que eu faço é sorrir e dizer:

-Ele pode ficar com meu quarto. Eu me mudo pro de hóspedes.

Chego na aula atrasado. A menina do vestido vermelho já estava lá no canto dela lendo seu livro. Dessa vez consegui ler o nome "Jane Eyre - Charlotte Brönte". Era enorme, devia ter umas quatrocentas páginas! Me sentei na mesma mesa de ontem, queria estar perto do professor pra quando ele fizesse a chamada de presença eu escutasse perfeitamente o nome dela. Infelizmente ele começou a aula dialogando com os alunos sobre Aldous Huxley.

-A família de Aldous incluía os mais diferentes membros da classe dominante inglesa; uma elite intelectual muito grande. Seu avô era o grande biólogo Thomas Henry Huxley, que defendia a teoria evolucionista de Charles Darwin, tendo desenvolvido o conceito agnóstico. Sua mãe era irmã da romancista Humphrey Ward...

Nunca eu havia tido tanto sono como nessa aula. Pro inferno o Admirável Mundo Novo de Huxley. Eu queria saber o nome dela! Por que? Nem eu sabia ao certo, mas era uma curiosidade tão grande quanto a que eu tive essa manhã.

-...e ele escreveu Brave New World, ou como vocês conhecem, Admiráevel Mundo Novo em apenas um mês no anos de 1932.

-Está errado. - ela disse. Em meio segundo todas as cabeças presentes no local se viraram em direção ao canto inferior esquerdo da sala. Mais precisamente pro rosto da menina de vestido vermelho.

-Como? - o professor parecia perdido.

-Está errado. - ela repitiu - Brave New World foi escrito durante quatro meses. E não é apenas um. E não foi em 1932. Foi em 1931. O livro foi publicado em 32, mas foi escrito em 31. O único grande livro do tonto do Huxley.

Eu amei ela!

-Está certa disso, senhorita?

-Qualquer um que pesquisar no Google vai encontrar a resposta, se você está duvidando de mim.

Uma das loiras burras disse:

-Ah! A muda resolveu falar e bancar a intelectual....! - isso provocou risinhos abafados.

-Eu apenas uso meu cérebro. Você devia tentar fazer isso as vezes. Por mais doloroso que possa ser pra você, vai valer a pena.

Explosão de riso geral.

-Só porque você não tem amigos e passa o dia lendo livros com quatrocentas páginas, não te faz melhor do que ninguém! - disse uma das loiras burras e ricas.

-Harry Potter e as Relíquias da Morte tem 784 páginas. - diz um dos nerds ressentido.

-Cala boca, Kevin. Não venha falar denovo do seu Harry merda... - diz um das loiras burras.

-HARRY MERDA??? - Três dos nerds se levantam! - Saiba você que J.K. Rowlling é mais rica do que a Rainha Elizabeth, e que a marca Harry Potter vale mais de 4 bilhões de dólares!

O professor acalma os ânimos da galera. A menina do vestido vermelho ri achando tudo muito estúpido e continua sua leitura de Jane Eyre.

-Poderia nos dizer que livro está lendo, Megan?

Megan! Megan! Megan! Megan! Megan!
Juro por Deus que nesse momento meu coração até bateu mais forte! O nome dela é Megan!

-É uma biografia ficcionial da personagem Jane Eyre. De Charlotte Brönte. Pra ser mais exata, uma biografia com 483 páginas.

-É um ótimo livro, Megan. - Disse o professor - Mas, agora concentre-se na aula, ok?

E continuou falando sobre o Aldous Huxley. Não prestei atenção na aula, fiquei o tempo todo repetindo o nome dela pra mim mesmo, em pensamento. No final, pelo que eu consegui ouvir, ele queria uma pesquisa sobre vida e obra do tonto do Huxley. Isso foi revoltante!

Cheguei em casa, e meu quarto ainda estava no lugar. Acho que ia levar uns bons sete meses antes do Augusto querer me transeferir pro quarto ao lado (menor e abafado). Fui direto pra minha janela, e taquei a cara a olhar pra casa da direita. Megan estava na janela dela e me viu também. Eu fiquei meio sem graça, mas subitamente ela gritou:

-Você quer vir aqui?

Quase tive um colapso nervoso. Juntei minhas forças, disse que adoraria e desci as escadas. Megan! Que nome lindo, não?


6 comentários interessantes:

Unknown 5 de jun. de 2009, 21:52:00  

Megan! Megan! Megan! Megan! Megan!
uff' Até q ENfimm Veyy *--*


-'AdMiraVeL MUNDo NOvO'- s2

Isso tah MtOO fOda PQP

CLEITON CAC 6 de jun. de 2009, 07:21:00  

rss nossa ficou muito bom esse capitulo, assim como os outros. Eu adoro o que vc escreve e me faz penetrar na historia rss adoro.
Obrigado pelo carinho em seus comentarios no meu blog, eu sinto o mesmo, que Deus te ilumine sempre, um abraço grandão rss tchau!!!

Maria Chuteira 6 de jun. de 2009, 11:50:00  

ahhhh... Jura que vai deixar esse suspense?? rsrsrs
adorei viu! principalmente a parte: "Augusto fez aquela cara que o Roberto Justus faz quando demite alguém."
kkkkkkkkkkkkk

Aquela car do Justus é mto foda! rsrsrs

Bjos!
inté o proximo.

CLEITON CAC 6 de jun. de 2009, 20:23:00  

Tem uns selinhos pra vc no meu blog, pegue la seu blog pra mim é muito bom e é uma forma de eu dizer isso, um abraço!!!

Renata 7 de jun. de 2009, 09:24:00  

Adorei! Ri quando ele começou a falar com a Tina.

Megan, belo nome!

Beijos!

Mateus Bonez 7 de jun. de 2009, 10:13:00  

Que lindo, lindo demais will ♥

http://tiomah.blogspot.com/

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