Capítulo Seis: Bernard

Quase tropecei nos degraus da escada da sala, de tanta ansiedade. O que será que a Megan, Me-gan, queria comigo? Na sala o Augusto estava lendo seu jornal pra variar...

-Oi Oliver.
-Vá se foder!

Quando finalmente cheguei lá fora, dei uma boa respirada e toquei a campanhia da casa dela. Foram os quarenta e três segundos mais longos de todos os meus dezessete anos. Eu devia estar muito preocupado em arrumar desculpas e explicações por ter olhado tanto pra ela na escola e diariamente através da minha janela, mas eu nem tava pensando nisso. Só queria ver ela mais de pertinho. Ela abriu a porta:

-Oi.
-Oi.
-...
-Você é o novo vizinho, né?
-Oliver.
-Hã?
-Oliver. Meu nome. Oliver. Oliver Frieddbach.

Ela riu

-Você vai ter que soletrar isso pra mim, depois.
-F,R,I,E,D,D,B,A,C,H.
-Obrigada.
-De nada.

Tá vendo? Eu me comportando igual um retardado.
Augusto veio pra fora:

-Oliver, que história é essa de me dizer essas coisas, garoto?!
-Eu sou um garoto estranho, lembra? - Eu disse, vingativo.
-Muito estranho, e mal educado!
-Aprendi com aquela cantora com nome de agressão física - Eu disse mais vingativo ainda!
-Oliver!

-Se você não se importa, doutor, ele está conversando comigo agora. - disse a Megan.

Dessa vez, o Augusto caprichou na expressão facial e entrou. Megan e eu rimos.

-Qual é a dele? - ela perguntou.
-Sei lá, ele só é meio confuso. Acho que ele não gosta de mim.
-Você quer entrar?
-Posso?

A casa estava vazia. Nenhum sinal de vida, a não ser a nossa. Ela tinha um piano na sala. Fantasiei que ela passava as tardes tocando músicas tristes e bonitas como "Ode to my family" do The Cranberries.

-Você toca?
-Não.
-Não?
-Não.
-Como não?
-Ué, eu não toco. Quem toca é o meu irmão, Bernard. Ele ama isso aí. Eu não tenho paciência, nunca quis aprender tocar.

Ok, meu conceito-the-cranberries foi por água abaixo.

-Então o que você faz?
-O que eu faço pra que?
-Sei lá, pra passar o tempo, as tardes...
-Bom, eu não só leio o tempo todo. Eu faço outras coisas. Internet.
-Eu estive te observando esses dias, eu...
-Eu sei. Eu vi.
-Eu tenho que te pedir desculpas. É que nessa cidade não tem nada pra fazer, então eu ficava no meu quarto, e a janela era aquela e...
-Tudo bem, tudo bem Oliver. Não precisa dar mil satisfações. No começo eu achei meio, esquisito. Na escola também você não parava. - Ela sorriu - Isso me deixou curiosa. Quis saber mais de você.
-A primeira vez que eu te vi, foi na festa.
-Festa?
-A festa que teve. Tinha um monte de gente, e jovens com roupas maneiras...e você estava deslocada de tudo isso. Isso me deixou intrigado. Parecia que você estava...
-Triste?
-Triste.
-Era o aniversário do Bernard. Ele trouxe todos os amiguinhos imbecis deles. Não gosto deles.
-Entendi. Achei que você fosse a aniversariante.
-Eu? Não, não gosto de festas.
-Entendi.

Silêncio. Ficamos olhando um pra cara do outro.

-Você já foi no Cereja&Capuccino?
-Como?
-Cereja&Capuccino. O barzinho lá no centro.
-Aquele bar? Detesto.

Megan era diferente. Aparentemente ela odiava tudo que os outros mais amavam. Eu achava isso legal, mas não era de se admirar por que ela não falava com ninguém no colégio.

-Por que você não fala com ninguém no colégio? - Tive que perguntar.
-Não perco meu tempo.
-São todos estúpidos?
-São.
-Concordo. Eles nem sequer conhecem autores decentes. J.K Rowlling é uma grande inscritora, mas não me adiciona muito conhecimento com varinhas mágicas e vassouras voadoras.

Ela riu, eu ri.
Um barulho. Um carro chegou.

-É minha mãe e meu pai - ela disse - Você vai ter que ir embora.
-Por que?
-Eu nunca trago ninguém aqui, sabe. Vai ser meio chocante.
-Nunca?
-Caramba, vem comigo!

Era tarde demais pra sair pela porta da frente. A porta dos fundos não era uma opção inteligente, então fomos para o quarto dela. Eu entrei, o quarto dela era previsivelmente organizado. Claro. Tudo no seu devido lugar, tudo tão limpo que até incomodava.

-Não faça barulho muito alto - Ela disse. Eu pensei "O que seria um barulho muito alto?"
-Maravilha. Há cinco minutos atrás eu nem te conhecia, e agora já estou no seu quarto!
-Não é um progresso fascinante?

Sentei numa poltrona que tinha lá. Do lado, Jane Eyre.

-Terminou?
-Sim, não gostei do final.
-Eu prefiro Jane Eyre do que Brave New World.
-Ah, eu fico em dúvida.
-...
-E você veio da onde?
-São Paulo.
-Resolveu morar com o Roberto Justus é?

Eu não aguentei e dei uma risada mosntro. Ela tapou minha boca, eu pedi desculpas.

-Eu também acho ele a cara do Justus!
-Eu sempre achei. - disse ela rindo.
-Ele é o marido da minha mãe, na verdade é com ela que eu vim morar. Meu pai, resolveu ir pra Grécia com a nova esposa dele, e eu não queria acompanhar ele. Viagem furada.
-Entendi, e Dom Basílio te pareceu melhor?
-Eu tive que arriscar, não é? E além do mais, eu queria ficar mais tempo com a minha mãe.
-Eles sempre foram um casal muito...sem filhos.
-Bom, há um mês eles não tinham nenhum. Agora já estão com dois.

Alguém bateu na porta. Eu e ela demos um pulo na mesma sincronia com o susto. Se fosse ensaiado, não dava certo.

-Quem é?
-É o Bernard, Megan.
-Entra, Bernard.

Ela abriu a porta, eu fiquei ali parado. Ele quando me viu, também ficou ali parado.
Megan também ficou ali parada. Eu não sabia o que dizer, então...

-Oliver. Meu nome, é Oliver. Oliver Frieddbach.


9 comentários interessantes:

Maria Chuteira 10 de jun. de 2009, 05:17:00  

Bom dia!!! olha como eu vim "cedinho" conferir a novidade!
Como sempre otimoooo!!! Sindrôme de James Bond né? rsrsrss
Humm...a Grécia ou Roberto Justus?? Vamos descobrir com o tempo se vc nao errou de destino né não? rsrss

Bjos!!!

CLEITON CAC 10 de jun. de 2009, 19:37:00  

Roberto Justos rss muito legal esse capitulo, vc detalha cada detalhe muito bom, agora é esperar o próximo rss e obrigado pleo comentario no meu blog, que Deus te ilumine.

Júlio Viana 11 de jun. de 2009, 09:16:00  

To lendo na ordem errada mais acho que vou recomeçar.
Gostei você da atenção a todos os detalhes deis do ambiente ate o personagem e isso é bom.

Passa no meu blog.
http://comosefosseverdade.blogspot.com

tayferreira 11 de jun. de 2009, 10:47:00  

Meu incrivél a História, amei... Simplesmente me pegou do começo ao fim,... Achei muito intrigante a vida desse menino o Oliver, Entrei por acaso e comecei a ler e agora quero saber quando vai sair o 7º capitulo. Bom nem preciso dizer q sempre vou voltar por aqui... Beijos http://confissoesblogger.blogspot.com/

tayferreira 11 de jun. de 2009, 15:33:00  

Mag, e obrigado pelos elogios...
E sim terça-feira vc me avise, melhor nem precisa q eu vou assim q possivél ler ! Essa série tem data pra acabar (tantos de capitulos exatos/?
Ou vc vai fazer um blog somente dele/?
Beijoos e até http://confissoesblogger.blogspot.com/

Mama 12 de jun. de 2009, 05:13:00  

Não tem porque não dizer que ta muito bom como nos outros comentários que eu fiz nos outros posts.
Continua escrevendo assim que tu vai longe amoreee!

beijos

Mateus Bonez 12 de jun. de 2009, 15:35:00  

adorei o Oliver *-*. E o barzinho tbm HAHUUAUHAAUHUH :PP

beeijão e nao vou me mudar mais, to de volta :P
http://tiomah.blogspot.com/

Unknown 12 de jun. de 2009, 17:45:00  

"O que seria um barulho muito alto?"


RacHEi Véyy
ushaushauhsauh

Isso TAh Bom D+ !!! =D

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Eu que fiz, não gostou? Quebraeu!

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